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domingo, 20 de dezembro de 2009

Who's that girl? - Lady Gaga

Os seios em chamas, o encontro com a Rainha de Inglaterra, a bissexualidade assumida e os quilos de papel ensopados de escandaleira fizeram de Lady Gaga a maior artista pop de 2009. Mas quando se fala dela, não basta falar da música ou sequer da atitude em palco. Não, ela é muito mais do que isso. É uma artista de corpo inteiro (ela que o revela em doses bastante generosas) como há muito a pop não nos oferecia.


Inspirada no nervo camaleónico de David Bowie, na pose de "bad girl" da primeira Madonna e no glamour de sempre de Freddie Mercury, Gaga volta a pedir manchetes com a edição de "The Fame Monster". O segundo álbum lida com as questões da fama e sobretudo com o lado obscuro de uma fama que ela experimentou muito cedo. Ela diz-se obcecada com monstros (a fama é um monstro e é essa a grande metáfora) e com a decadência das celebridades.

Ela diz-se ainda inspirada pela pop melancólica e pelos encontros experimentais com a cena industrial e gótica. E diz que escreveu estas canções enquanto via espectáculos de moda sem som. E que a sua música encaixa bem nesses cenários com o glamour a rebentar pelas costuras (literalmente). Ela diz muito e também se diz preparada para o futuro sem deixar de fazer o luto pelo passado. E que é de tudo isto que trata o novo disco.

"The Fame Monster" é uma espécie de ópera pop com bola de espelhos. As letras estão carregadas de referências culturais e sociais (mas também pessoais) mais ou menos óbvias. O single de avanço, 'Bad Romance', trata do gozo que se pode tirar de uma má relação e também cita Alfred Hitchcock, Boney M e Depeche Mode. 'Speechless' é balada rock, regada por pianos classe de 70, que fala de relações abusivas. E em 'Telephone', Lady Gaga canta, ao lado de Beyoncé, que prefere a pista de dança aos telefonemas da pessoa amada.
Entre a homenagem às celebridades que morreram de forma trágica (Marilyn Monroe, Sylvia Plath e a Princesa Diana), em 'Dance in the Dark', e o hino à masturbação em 'So Happy I Could Die' ("I touch myself, can't get enough"), Lady Gaga até pode ser odiada por muito boa gente. O alcance e a diversidade da sua arte é que dificilmente poderão ser questionados. A música em 2009 rima com ela e, no deve e haver dos tops e do grande público, ela é a grande artista performativa do ano. É justo.

Texto encontrado na net de autor desconhecido

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

NA SENDA ESCABROSA

"Nunca te deixarei, nem te desampararei." - Paulo. (HEBREUS, 13:5.)



A palavra do Senhor não se reporta somente à sustentação da vida física, na subida pedregosa da ascensão.

Muito mais que de pão do corpo, necessitamos de pão do espírito.

Se as células do campo fisiológico sofrem fome e reclamam a sopa comum, as necessidades e desejos, impulsos e emoções da alma provocam, por vezes, aflições desmedidas, exigindo mais ampla alimentação espiritual.

Há momentos de profunda exaustão, em nossas reservas mais íntimas.

As energias parecem esgotadas e as esperanças se retraem apáticas.

Instala-se a sombra, dentro de nós, como se espessa noite nos envolvesse.

E qual acontece à Natureza, sob o manto noturno, embora guardemos fontes de entendimento e flores de boa-vontade, na vasta extensão do nosso país interior, tudo permanece velado pelo nevoeiro de nossas inquietações.

O Todo-Misericordioso, contudo, ainda aí, não nos deixa completamente relegados à treva de nossas indecisões e desapontamentos. Assim como faz brilhar as estrelas fulgurantes no alto, desvelando os caminhos constelados do firmamento ao viajor perdido no mundo, acende, no céu de nossos ideais, convicções novas e aspirações mais elevadas, a fim de que nosso espírito não se perca na viagem para a vida superior.

"Nunca te deixarei, nem te desampararei" - promete a Divina Bondade.

Nem solidão, nem abandono.

A Providência Celestial prossegue velando...

Mantenhamos, pois, a confortadora certeza de que toda tempestade é seguida pela atmosfera tranqüila e de que não existe noite sem alvorecer.







Do livro Fonte Viva


Médium - Francisco Cândido Xavier


Ditado pelo espírito EMMANUEL

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Metamorfoses


Nasi / Wolverine



Eliana / Marilyn Manson



Jr. Lima / J. Hendrix



Fernanda Abreu / Prince



Luiza Possi / Laranja Mecânica

Créditos:

Fotógrafa -  Priscila Prade
Livro - ‘EQS — Eu Queria Ser’


domingo, 8 de novembro de 2009

AMOR - para que mexer nisso?

que droga falar deste assunto quando se esta carente e com vontade de sumir, vi um filme agora 500 dias sem ela, onde eu me vi neste filme, um cara inteligente, com um futuro na frente da cara mas , empacado por nao esta agindo certo.
de repente como q se o destino quisesse lhe rpegar um peça, vem uma pessoa, nossa aquela q vc semrpe quis, e elel sai com vc , mostra q gosta de vc e droga se comporta como seu ado ou ada, e de prepenti ela dzi , que nada do que parece é real e que é so amizade, mas q porra de amizade é essa q transa e tem palavras tao profunda envolvida.
ai sai o cara odido atras se humilhando e achando q é imposivel nao ter amor entres ele, e o que acontece riem na sua cara.



heheh eu quero dizer q acredito no amor sim, é um sentimento maravilhoso, onde tudo fica melhor, mas nao acredito em romantismo, e sim em verdade.

pq é tao dificio, estar so e encotnrar alguem, perto dos 30 eu me questiono todos os dias isso e q merda q de vida q nos deixa mais inteligente e mais fechados, hj em dia nao badalo mais e nao curto masi , tomei esta decisãod evida pra ver se muda algo em mim ou no mundo, mas nada ate agora e so fica a pergunta, quero um amor e quando elel vem, heheheh guardar carinho é foda ,



mas so Einstein pra descobrir isso e explicar a formula !

de resto assitam este filme, é chato mas quem viveu ou vive algo aprecido vai curti!


Marcelino Alves

ps: desculpem os erros de portugues mas nao tou afimd e corrigir nao

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Castelo

Vou construir um castelo…


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.

E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “não”.

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho?

Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo…



(Fernando Pessoa)

domingo, 18 de outubro de 2009

15 minutos

"Porque o povo usa agora o twitter, para dizer como esta, ou para dizer o que os outros tem que ver e escutar, agora todo mundo pode ser um pouco redentor e um pouco delimitador. Pode mostrar mas quem você é, e com isso atinigr um certo grau de fama.
Alguem já disse que todo mundo tera seus 15 minutos de fama, será pelo twitter onde isso vai acontecer?"

A Literaura entra e bebe do social.

´´A literatura é como o sorriso da sociedade. Quando ela é feliz, a sociedade o espírito se lhe compraz nas artes e , na arte literária, com ficção e com poesia, as mais graciosas expressões da imaginação . Se há apreensão ou sofrimento o espírito se concentra, grave, preocupado, e, então, histórias, ensaios morais e científicos, sociológicos e políticos são-lhe a preferência imposta, pela utilidade imediata (PEIXOTO, 1970, p.5)``

Para se entender uma obra é preciso situá-la no momento em que foi escrita, pensando os valores vigentes na época. Sobre isso, Roger Chartier afirma:

´´A literatura permite o acesso à sintonia fina ou ao clima de uma época, ao modo pelo qual as pessoas pensavam o mundo, a si próprias, quais os valores que guiam seus passos, quais preconceitos, medos e sonhos (...)A literatura é testemunho de si própria, portanto o que conta para o historiador não é o tempo da narrativa, mas sim o da escrita (CHARTIER, 1990, p.82-83)``

Vicent Price

Nome completo Vincent Leonard Price Jr.

Data de nascimento 27 de maio de 1911

Local de nascimento St. Louis, Missouri, EUA
Data de falecimento 25 de Outubro de 1993 (82 anos)

Local de falecimento Los Angeles, Califórnia, EUA



Vincent Leonard Price Jr. (St. Louis, 27 de maio de 1911 — Los Angeles, 25 de outubro de 1993) foi um ator norte-americano.

Nascido no Missouri, Price veio de uma família rica, cercada por um ambiente cultural acima dos padrões e envolta em tradições antigas à moda européia.

Começou no teatro, depois no cinema onde ficou conhecido por contracenar em filmes de suspense e terror. A sua trajetória é longa e inclui clássicos como "Museu de Cera" (1953), "A Mosca da Cabeça Branca" (1958), "A Casa Amaldiçoada" (1958), "Força Diabólica" (1959), além do criativo ciclo de adaptações de obras de Edgar Allan Poe dirigidas por Roger Corman na década de 60, como "O Solar Maldito" (1960), "Mansão do Terror" (1961), "Muralhas do Pavor" (1962), "O Castelo Assombrado" (1963), entre outros que preencheram essa fase que talvez tenha sido a mais fecunda do ator.

Nos anos 70, porém, surgiram mais algumas obras que tornaram sua filmografia ainda mais rica, como "O Grito da Feiticeira" (1970), "O Abominável Dr. Phibes" (1971), "A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes" (1972), "As Sete Máscaras da Morte" (1973), "A Casa do Terror" (1974), entre muitos outros (neste último, ao lado do "cavalheiro do terror" Peter Cushing, Price faz deliciosas e divertidas brincadeiras com a própria carreira, numa autoparódia clássica. Em 1975, participou do disco Welcome To My Nightmare, do cantor Alice Cooper, que sempre foi fã declarado do lendário ator. Vincent Price gravou uma narração para a faixa The Black Widow. Participou do especial de TV de Alice Cooper, que foi inspirado nas letras do disco.

Vincent Price em cena (1942).Na década de 80 destacou-se na "Mansão da Meia Noite" (1983), que reúne, num só fôlego, Peter Cushing, John Carradine, Christopher Lee e Vincent Price. Este filme, repleto de clichês e situações previsíveis, na verdade foi uma espécie de homenagem a esses atores que são a própria história do género horror no cinema, e foi o único que os uniu numa mesma produção.

Nos anos 80, ficou conhecido do grande público por conta de uma participação muito especial no mundo da música: Uma delas, ao fechar com brilhantismo um dos grandes clássicos do sempre "Rei do Pop" Michael Jackson, "Thriller".

Participou também como narrador de vários filmes, seriados e curtas, como The Devil's Triangle (documentário) (1974), Faerie Tale Theatre (1982), Vincent (1982), Os Treze Fantasmas do Scooby-Doo (1985) e Tiny Toon Adventures (1991). No curta mencionada Vincent, realizada por Tim Burton, Vincent Price é o narrador da história de seis minutos, sobre um rapaz chamado Vincent que quer ser como Vincent Price. Como se pode constatar, esta curta em stop motion é uma evidente homenagem ao consagrado actor.

Seu último filme foi Edward Mãos de Tesoura (1990), no qual contracenou com Johnny Depp.

Três anos depois, já com 82 anos, veio à falecer de cancro no pulmão.

Assitam Vincent de Tim Burtom uma homenagem a este grande ator.
 
link: http://www.youtube.com/watch?v=QkmKhd_h3lk

Hélio Oiticica



Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 — Rio de Janeiro, 26 de março de 1980) foi um pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas.


É considerado por muitos um dos artistas mais revolucionários de seu tempo e sua obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente.[1] Neto de José Oiticica, anarquista, professor e filólogo brasileiro, autor do livro O anarquismo ao alcance de todos (1945).

Em 1959, fundou o Grupo Neoconcreto, ao lado de artistas como Amilcar de Castro, Lygia Clark, Lygia Pape e Franz Weissmann.

Na década de 1960, Hélio Oiticica criou o Parangolé, que ele chamava de "antiarte por excelência". O Parangolé é uma espécie de capa (ou bandeira, estandarte ou tenda) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas, texturas e grafismos, e os materiais com que é executado (tecido, borracha, tinta, papel, vidro, cola, plástico, corda, palha) a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por isso, é considerado uma escultura móvel.

Foi também Hélio Oiticica que fez o penetrável Tropicália, que não só inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar uma estética do movimento tropicalista na música brasileira, nos anos 1960 e 1970.

Em 16 de outubro de 2009, um incêndio destruiu cerca de duas mil obras do artista plástico - aproximadamente 90% do acervo (avaliado em US$200 milhões), que era mantido na residência do seu irmão, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Além de quadros e dos famosos "parangolés", no local também eram guardados documentários e livros sobre o artista. [2] [3]

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Câmara dos Estados Unidos aprova criminalização da homofobia

A Câmara dos Representantes, espécie de câmara dos deputados dos Estados Unidos, aprovou ontem, quinta-feira (08/10), lei federal que criminaliza as agressões homofóbicas. Para se tornar lei de fato, a medida precisa passar pelo Senado. O projeto é uma emenda que visa complementar a lei de crimes racistas que foi aprovada após a morte de Martin Luther King Jr.


Caso seja aprovada, os promotores federais poderão intervir em casos de agressões contra LGBT. O projeto de lei foi aprovado por 281 votos a favor e 146 contra. Quinze democratas e 131 republicanos votaram contra a lei.

A lei em questão é fruto de uma luta de Ongs e parlamentares Democratas dos Estados Unidos há mais de uma década.

domingo, 11 de outubro de 2009

ORAÇÃO DO GAÚCHO

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença do Patrão Celestial.

Vou chegando, enquanto cevo o amargo de minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear por outras invernadas e repontar do Céu, a força e a coragem para o entrevero do dia que passa.

Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca, rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do Céu.

Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço ao romper da madrugada e ao descambar do sol:

"Tomara que todo o mundo seja como irmão!. Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero para mim".

Perdoa-me, Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase se querer, em me solto porteira a fora... Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro...mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito!

Ajuda-me, Virgem Maria, primeira prenda do Céu. Socorre-me, São Pedro, Capataz da Estância Gaúcha. Pra fim de conversa, vou te dizer meu Deus, mas somente pra ti, que tua vontade leve a minha de cabresto pra todo o sempre e até a querência do Céu.

Amém.
 
Por: D. Luiz Felipe de Nadal

Bispo de Uruguaiana

Passado vivo , Sombrio Futuro

" As coisas mudam,
O que aconteceu foi a 40 anos atrás,
hoje estou com 67 anos.
Todo dia o futuro fica um pouco mais sombrio.
Mas o passado, até as piores partes dele,
vão ficando cade vez mais radiante"

ESPECTRAL, Mrs. Jupiter.
WATCHMEN, The movie.

sábado, 10 de outubro de 2009

Changes

David Bowie


I still don't know what I was waiting for


And my time was running wild

A million dead-end streets

Every time I thought I'd got it made

It seemed the taste was not so sweet

So I turned myself to face me

But I've never caught a glimpse

Of how the others must see the faker

I'm much too fast to take that test



Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Don't want to be a richer man

Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Just gonna have to be a different man

Time may change me

But I can't trace time



I watch the ripples change their size

But never leave the stream

Of warm impermanence and

So the days float through my eyes

But still the days seem the same

And these children that you spit on

As they try to change their worlds

Are immune to your consultations

They're quite aware of what they're going through



Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Don't tell them to grow up and out of it

Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Where's your shame

You've left us up to our necks in it

Time may change me

But you can't trace time



Strange fascination, fascinating me

Changes are taking the pace I'm going through



Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Oh, look out you rock 'n rollers

Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the stranger)

Ch-ch-Changes

Pretty soon you're gonna get a little older

Time may change me

But I can't trace time

I said that time may change me

But I can't trace time

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cílios Dourados

Por Marcelino Alves.


Madrugada,
Após uma noite de volúpia intensa ...
...Acordo ainda quando o sol não sorri,
Fico quieto e sentado em frente
Ao elfo que junto comigo
Compartilha este quarto de hotel.
Nú, ao meu lado ele dorme,
Sorrindo, por ter gozado comigo,
Ao mesmo tempo...

Começo então a meditar em seu corpo
Sua pela alva, seus cabelos dourados e macios.
Sua boca, que tenho a sensação de ser um pedaço de uma nuvem.
... Os primeiros raios de sol entram pela janela
Então, prendo minha atenção a seus cílios.

Nossa! Como a física divina pode resplandecer rara beleza!
Cílios dourados,
que com a luz do sol brilham e ofuscam meu olhar.

Então o meu amado acorda!
Completando o espetáculo, com seus olhos verdes intensos,
Que com girassóis no centro completam seu brilho.
E, então ele sorri, como que agradecendo...

... Ah!
...Como quero acordar. Sem cessar
Todos os dias, com o calor que emana e entorpece,
Daqueles mágicos Cílios Dourados.

domingo, 4 de outubro de 2009

Dê ouvidos à sua criança interior

Todos nós temos uma criança interior que precisa ser lembrada às vezes. Na correria diária não costumamos lhe dar atenção. E, muito menos, pensamos que uma dificuldade vivida hoje, pode ser reflexo dessa criança ter sido ferida no passado. Essa idéia me ocorreu a partir do filme Duas Vidas, no qual Bruce Willis faz o papel de Russ, um executivo frio e ambicioso que, aparentemente, não mantém relação de afeto por ninguém. Porém, em dado momento, ele se depara com o Rusty, ele mesmo aos 8 anos. Começa, então, a rever as escolhas que fez em sua vida.

Alguma vez você já pensou “Bons tempos aqueles em que eu era criança, e não tinha tantas responsabilidades”? Na verdade, as responsabilidades começam cedo em nossas vidas, e desde pequenos já vamos aprendendo a desenvolver esse sentimento. Sabe do que realmente sentimos saudades? Da liberdade.

A criança não tem medo de errar. Ela arrisca-se a cair e levantar quantas vezes forem necessárias, sem preocupações com o tempo ou a opinião alheia. Aproveita tudo que a vida tem para oferecer naquele exato momento. Experimenta o que quer e da forma que deseja, sem medo de acabar. Aquele chocolate único e delicioso, que nós adultos comemos aos pouquinhos, a criança o mastiga por completo. Isso porque ela prefere saboreá-lo em sua boca por um longo tempo, e não tem medo de que ao terminar não haverá mais. Ela deseja ser feliz agora. Diz as pessoas como se sente, sem medo dos julgamentos.

Por todos esses motivos, éramos livres quando criança. Livres das amarras que nós próprios criamos ao longo de nossa vida. Livres do medo do pré-julgamento dos outros. Éramos livres do medo de ser feliz.O Russ adulto era uma criança ferida. No filme, ele teve a chance de voltar no tempo e perceber onde exatamente ocorreu a dor que o marcou. O menino Rusty o ajudou mostrando a ele o que devia fazer e como deveria fazer, ou melhor, o lembrando de como era bom ser criança.

www.personare.com.br

Apocalíptico

Saco de batatas

O professor pediu para que os alunos levassem batatas e uma bolsa de plástico para a aula.

Ele pediu para que separassem uma batata para cada pessoa de quem sentiam mágoas, escrevessem os seus nomes nas batatas e as colocassem dentro da bolsa.

Algumas das bolsas ficaram muito pesadas. A tarefa consistia em, durante uma semana, levar a todos os lados a bolsa com batatas. Naturalmente a condição das batatas foi se deteriorando com o tempo. O incômodo de carregar a bolsa, a cada momento, mostrava-lhes o tamanho do peso espiritual diário que a mágoa ocasiona, bem como o fato de que, ao colocar a atenção na bolsa, para não esquecê-la em nenhum lugar, os alunos deixavam de prestar atenção em outras coisas que eram importantes para eles.

Esta é uma grande metáfora do preço que se paga, todos os dias, para manter a dor, a bronca e a negatividade. Quando damos importância aos problemas não resolvidos ou às promessas não cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de mágoa, aumentando o stress e roubando nossa alegria.

Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora é a única forma de trazer de volta a paz e a calma.

Jogue fora suas "batatas".

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Adormecido no vale (Arthur Rimbaud)

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

sábado, 12 de setembro de 2009

SOS Animals

http://www.animaisexcepcionais.org

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Aquecimento Global

O Aquecimento global é um fenômeno climático de larga extensão—um aumento da temperatura média superficial global que vem acontecendo nos últimos 150 anos. Entretanto, o significado deste aumento de temperatura ainda é objecto de muitos debates entre os cientistas. Causas naturais ou antropogênicas (provocadas pelo homem) têm sido propostas para explicar o fenômeno.
Grande parte da comunidade científica acredita que o aumento de concentração de poluentes antropogênicos na Atmosfera é causa do efeito estufa. A Terra recebe radiação emitida pelo Sol e devolve grande parte dela para o espaço através de radiação de calor. Os poluentes atmosféricos estão retendo uma parte dessa radiação que seria refletida para o espaço, em condições normais. Essa parte retida causa um importante aumento do aquecimento global.
A principal evidência do aquecimento global vem das medidas de temperatura de estações metereológicas em todo o globo desde 1860. Os dados com a correção dos efeitos de "ilhas urbanas" mostra que o aumento médio da temperatura foi de 0.6+-0.2 C durante o século XX. Os maiores aumentos foram em dois períodos: 1910 a 1945 e 1976 a 2000. (fonte IPCC).
Evidências secundárias são obtidas através da observação das variações da cobertura de neve das montanhas e de áreas geladas, do aumento do nível global dos mares, do aumento das precipitações, da cobertura de nuvens, do El Niño e outros eventos extremos de mau tempo durante o século XX.
Por exemplo, dados de satélite mostram uma diminuição de 10% na área que é coberta por neve desde os anos 60. A área da cobertura de gelo no hemisfério norte na primavera e verão também diminuiu em cerca de 10% a 15% desde 1950 e houve retração das montanhas geladas em regiões não polares durante todo o século XX.(Fonte: IPCC).

Causas:

Mudanças climáticas ocorrem devido a factores internos e externos. Factores internos são aqueles associados à complexidade derivada do facto dos sistemas climáticos serem sistemas caóticos não lineares. Fatores externos podem ser naturais ou antropogênicos.
O principal factor externo natural é a variabilidade da radiação solar, que depende dos ciclos solares e do facto de que a temperatura interna do sol vem aumentando. Fatores antropogênicos são aqueles da influência humana levando ao efeito estufa, o principal dos quais é a emissão de sulfatos que sobem até a estratosfera causando depleção da camada de ozônio (fonte:IPCC)
Cientistas concordam que factores internos e externos naturais podem ocasionar mudanças climáticas significativas. No último milénio dois importantes períodos de variação de temperatura ocorreram: um Período quente conhecido como Período Medieval Quente e um frio conhecido como Pequena Idade do Gelo. A variação de temperatura desses períodos tem magnitude similar ao do atual aquecimento e acredita-se terem sido causados por fatores internos e externos somente. A Pequena Idade do Gelo é atribuída à redução da atividade solar e alguns cientistas concordam que o aquecimento terrestre observado desde 1860 é uma reversão natural da Pequena Idade do Gelo ( Fonte: The Skeptical Environmentalist).
Entretanto grandes quantidades de gases tem sido emitidos para a Atmosfera desde que começou a revolução industrial, a partir de 1750 as emissões de dióxido de carbono aumentaram 31%, metano 151%, óxido de nitrogênio 17% e ozônio troposférico 36% (Fonte IPCC).
A maior parte destes gases são produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Os cientistas pensam que a redução das áreas de florestas tropicais tem contribuído, assim como as florestas antigas, para o aumento do carbono. No entanto florestas novas nos Estados Unidos e na Rússia contribuem para absorver dióxido de carbono e desde 1990 a quantidade de carbono absorvido é maior que a quantidade liberada no desflorestamento. Nem todo dióxido de carbono emitido para a Atmosfera se acumula nela, metade é absorvido pelos mares e florestas.
A real importância de cada causa proposta pode somente ser estabelecida pela quantificação exacta de cada factor envolvido. Factores internos e externos podem ser quantificados pela análise de simulações baseadas nos melhores modelos climáticos.
A influência de fatores externos pode ser comparada usando conceitos de força radiotiva. Uma força radiotiva positiva esquenta o planeta e uma negativa o esfria. Emissões antropogênicas de gases, depleção do ozônio estratosférico e radiação solar tem força radioativa positiva e aerosóis tem o seu uso como força radiotiva negativa.(fonte IPCC).

Modelos climáticos:

Simulações climáticas mostram que o aquecimento ocorrido de 1910 até 1945 podem ser explicado somente por forças internas e naturais (variação da radiação solar) mas o aquecimento ocorrido de 1976 a 2000 necessita da emissão de gases antropogênicos causadores do efeito estufa para ser explicado. A maioria da comunidade científica está actualmente convencida de que uma proporção significativa do aquecimento global observado é causado pela emissão de gases causadores do efeito estufa emitidos pela actividade humana. (Fonte IPC)
Esta conclusão depende da exactidão dos modelos usados e da estimativa correcta dos factores externos. A maioria dos cientistas concorda que importantes características climáticas estejam sendo incorrectamente incorporadas nos modelos climáticos, mas eles também pensam que modelos melhores não mudariam a conclusão. (Source: IPCC)
Os críticos dizem que há falhas nos modelos e que factores externos não levados em consideração poderiam alterar as conclusões acima. Os críticos dizem que simulações climáticas são incapazes de modelar os efeitos resfriadores das partículas, ajustar a retroalimentação do vapor de água e levar em conta o papel das nuvens. Críticos também mostram que o Sol pode ter uma maior cota de responsabilidade no aquecimento global actualmente observado do que o aceite pela maioria da comunidade científica. Alguns efeitos solares indirectos podem ser muito importantes e não são levados em conta pelos modelos. Assim, a parte do aquecimento global causado pela acção humana poderia ser menor do que se pensa actualmente. (Fonte: The Skeptical Environmentalist)

Efeitos

Devido aos efeitos potenciais sobre a saúde humana, economia e meio ambiente o aquecimento global tem sido fonte de grande preocupação. Algumas importantes mudanças ambientais tem sido observadas e foram ligadas ao aquecimento global. Os exemplos de evidências secundárias citadas abaixo (diminuição da cobertura de gelo, aumento do nível do mar, mudanças dos padrões climáticos) são exemplos das consequências do aquecimento global que podem influenciar não somente as actividades humanas mas também os ecosistemas. Aumento da temperatura global permite que um ecosistema mude; algumas espécies podem ser forçadas a sair dos seus habitats (possibilidade de extinção) devido a mudanças nas condições enquanto outras podem espalhar-se, invadindo outros ecossistemas.
Entretanto, o aquecimento global também pode ter efeitos positivos, uma vez que aumentos de temperaturas e aumento de concentrações de CO2 podem aprimorar a produtividade do ecosistema. Observações de satélites mostram que a produtividade do hemisfério Norte aumentou desde 1982. Por outro lado é fato de que o total da quantidade de biomassa produzida não é necessáriamente muito boa, uma vez que a biodiversidade pode no silêncio diminuir ainda mais um pequeno número de espécie que esteja florescendo.
Uma outra causa grande preocupação é o aumento do nível do mar. O nível dos mares está aumentando em 0.01 a 0.02 metros por década e em alguns países insulares no Oceano Pacífico são expressivamente preocupantes, porque cedo eles estarão debaixo de água. O aquecimento global provoca subida dos mares principalmente por causa da expansão térmica da água dos oceanos, mas alguns cientistas estão preocupados que no futuro, a camada de gelo polar e os glaciares derretam. Em consequência haverá aumento do nível, em muitos metros. No momento, os cientistas não esperam um maior derretimento nos próximos 100 anos. (Fontes: IPCC para os dados e as publicações da grande imprensa para as percepções gerais de que as mudanças climáticas).
Como o clima fica mais quente, a evaporação aumenta. Isto provoca pesados aguaceiros e mais erosão. Muitas pessoas pensam que isto poderá causar resultados mais extremos no clima como progressivo aquecimento global.
O aquecimento global também pode apresentar efeitos menos óbvios. A Corrente do Atlântico Norte,por exemplo, provocada por diferenças entre a temperatura entre os mares. Aparentemente ela está diminuindo conforme as médias da temperatura global aumentam, isso significa que áreas como a Escandinávia e a Inglaterra que são aquecidas pela corrente devem apresentar climas mais frios a despeito do aumento do calor global.

Painel Intergovernamental sobre as Mudanças do Clima (IPCC)

Como este é um tema de grande importância, os govenos precisam de previsões de tendências futuras das mudanças globais de forma que possam tomar decisões políticas que evitem impactos indesejáveis. O aquecimento global está sendo estudado pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). O último relatório do IPCC faz algumas previsões a respeito das mudanças climáticas. Tais previsões são a base para os actuais debates políticos e científicos.
As previsões do IPCC baseiam-se nos mesmos modelos utilizados para estabelecer a importância de diferentes factores no aquecimento global. Tais modelos alimentam-se dos dados sobre emissões antropogênicas dos gases causadores de efeito estufa e de aerosóis, gerados a partir de 35 cenários distintos, que variam entre pessimistas e optimistas. As previsões do aquecimento global dependem do tipo de cenário levado em consideração, nenhum dos quais leva em consideração qualquer medida para evitar o aquecimento global.

O último relatório do IPCC projecta um aumento médio de temperatura superficial do planeta entre 1,4 e 5,8º C entre 1990 a 2100. O nível do mar deve subir de 0,1 a 0,9 metros nesse mesmo Período.
Apesar das previsões do IPCC serem consideradas as melhores disponíveis, elas são o centro de uma grande controvérsia científica. O IPCC admite a necessidade do desenvolvimento de melhores modelos analíticos e compreensão científica dos fenômenos climáticos, assim como a existência de incertezas no campo. Críticos apontam para o facto de que os dados disponíveis não são suficientes para determinar a importância real dos gases causadores do efeito estufa nas mudanças climáticas. A sensibilidade do clima aos gases estufa estaria sendo sobrestimada enquanto fatores externos subestimados.
Por outro lado, o IPCC não atribui qualquer probabilidade aos cenários em que suas previsões são baseadas. Segundo os críticos isso leva a distorções dos resultados finais, pois os cenários que predizem maiores impactos seriam menos passíveis de concretização por contradizerem as bases do racionalismo económico.

Convenção-Quadro Sobre Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kioto:

Mesmo havendo dúvidas sobre sua importância e causas, o aquecimento global é percebido pelo grande público e por diversos líderes políticos como uma ameaça potencial. Por se tratar de um cenário semelhante ao da tragédia dos comuns, apenas acordos internacionais seriam capazes de propôr uma política de redução nas emissões de gases estufa que, de outra forma, os países evitariam implementar de forma unilateral. Do Protocolo de Kioto a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foram ratificadas por todos os países industrializados que concordaram em reduzir suas emissões abaixo do nível registrado em 1990. Ficou acertado que os países em desenvolvimento ficariam isentos do acordo. Contudo, President Bush, presidente dos os Estados Unidos — país responsável por cerca de um terço das emissões mundiais, decidiu manter o seu país fora do acordo. Essa decisão provocou uma acalorada controvérsia ao redor do mundo, com profundas ramificações políticas e ideológicas.
Para avaliar a eficácia do Protocolo de Kioto, é necessário comparar o aquecimento global com e sem o acordo. Diversos autores independentes concordam que o impacto do protocolo no fenômeno é pequeno (uma redução de 0,15 num aquecimento de 2ºC em 2100). Mesmo alguns defensores de Kioto concordam que seu impacto é reduzido, mas o vêem como um primeiro passo com mais significado político que prático, para futuras reduções. No momento, é necessária uma analise feita pelo IPCC para resolver essa questão.
O Protocolo de Kioto também pode ser avaliado comparando-se ganhos e custos. Diferentes análises econômicas mostram que o Protocolo de Kioto pode ser mais dispendioso do que o aquecimento global que procura evitar. Contudo, os defensores da proposta argumentam que enquanto os cortes iniciais dos gases estufa têm pouco impacto, eles criam um precedente para cortes maiores no futuro.


Fonte: www.jornaldomeioambiente.com.br

Caridade Moral

A caridade moral consiste em se suportarem umas as outras criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando que fale outro mais tolo que ele. É um gênero de caridade isso.
Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdem com que vos recebem pessoas que muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espirita, a única real, estão não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.

Irmã Rósalia (Paris, 1860)

O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec // Editora FEB.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Entramos na era pós-racial

A vitória de Obama é a concretização do sonho. Mas ela não aposenta a discussão sobre a questão racial


"E ENTÃO, EU cheguei a Memphis. E alguns começaram a dizer que havia ameaças. O que alguns irmãos brancos doentes poderiam fazer comigo? Bem, eu não sei o que vai acontecer agora. Temos dias difíceis pela frente. Mas não me importo mais. Porque eu estive no topo da montanha. E eu olhei lá de cima. E eu vi a Terra Prometida. Eu posso não chegar até ela com vocês. Mas eu quero que vocês saibam que nós chegaremos à Terra Prometida."
Martin Luther King Jr. proferiu essas palavras em discurso, em Memphis, no Tennessee, no dia 3 de abril de 1968. Menos de 24 horas mais tarde, ele seria assassinado por um "irmão branco doente".
Passados 40 anos, o homem mais respeitado do mundo é o negro Nelson Mandela e o presidente eleito dos Estados Unidos, um negro de nome esquisito (ao menos para os padrões norte-americanos), Barack Hussein Obama.
Nas ruas do Rio, os camelôs já oferecem camisetas com a imagem do novo líder. Nos cartórios da África, da Índia e da Indonésia escrivães já se acostumam a inscrever o nome do presidente eleito em certidões de nascimento. E, na Inglaterra, a comemoração foi dupla por conta da vitória do negro Lewis Hamilton na F-1, esporte dominado por brancos.
O negão está na moda, o negão está no topo do mundo! Em uma América que vem sendo definida como pós-racial, até quem sempre odiou os negros agora minimiza o fator raça. Questionado sobre a cor da pele de Obama, David Duke, o infame ex-membro do Ku Klux Klan, afirmou: "Não vejo muita diferença entre Hillary, McCain e Obama".
A Terra Prometida imaginada por Martin Luther King Jr. está ao alcance da mão. O pastor, ativista e Prêmio Nobel da Paz dizia que as divisões de raça nos EUA só seriam transcendidas no dia em que um negro fosse eleito presidente. Com a vitória do democrata, o negro passou de coadjuvante a protagonista principal do sonho americano.
Barack Obama foi um candidato "daltônico" e conciliador que fez questão de não enxergar a cor do eleitorado. Mas, não fosse a crise econômica, a campanha "ecumênica" de Obama teria sido vitoriosa? Que papel sua negritude terá jogado na eleição? Apoiadora de Hillary e candidata a vice na eleição de 1984, a democrata Geraldine Ferraro fez uma afirmação recalcada sobre o assunto durante as prévias. Disse que, "se Obama fosse um homem branco, ele não estaria nesta posição. E se fosse mulher (de qualquer cor) também não estaria nesta posição". Seja como for, já estava mais do que na hora de os EUA tomarem vergonha na cara sobre a questão racial, que para eles conta com o requinte extra de dividir caucasianos entre "brancos" e "latinos".
A trajetória de Barack Obama rumo à Casa Branca é a concretização de mais uma etapa do sonho de Martin Luther King Jr. Mas daí a achar que ela aposenta a discussão racial nos EUA vai uma légua e meia.
É "wishful thinking", excesso de otimismo, falar em era pós-racial quando a obscena maioria da população carcerária nos EUA é composta por negros. E quando as atrocidades cometidas pelo governo Bush com a população negra de Nova Orleans, após a passagem do furacão Katrina, ainda são uma ferida exposta para o mundo inteiro ver.

BARBARA GANCIA para Folha de São Paulo (07/11/2008)

barbara@uol.com.br
http://www.barbaragancia.com.br/

domingo, 16 de agosto de 2009

Jornalista

“ O jornalismo é o exercício diário de inteligencia e a pratica cotidiana do caráter”


Cláudio Alencar.

A Arte de compreender a si mesmo

“Querer o menos possível e conhecer o mais possível”

Arthur Schopenhauer.

Cristo era um revolucionário?

“ a proximidade de Judas com a seita dos zelotes ( movimento clandestino anti-imperialista dedicado a expulsar os romanos da Plestina, que Eagleton compara ironicamente com a Al-Quaeda), o autor chega a cogitar não sem um certo cinismo: “Talvez Judas tenha vendido Jesus porque esperava que ele fosse um Lênin e ficou amargamente desencantado quando compreendeu que não ia liderar o povo contra o poder colonial romano”.

Eduardo Socha (Revista Cult ano 12 nº 136) // ( sobre o livro “Jesus Cristo – Os evangelhos de Terry Eagleton”)

Concepção de Herói.

“Heróis são mortos ilustres e servem para ser imitados”

Marcia tiburi ( Revista Cult ano 12 – nº 136)

sábado, 15 de agosto de 2009

A suposta divida entre pais e filhos

As relações pessoais são muitas vezes marcadas pelo tema da divida. Decisivamente, por exemplo, a relação entre pais e filhos.
Os pais dão vida aos filhos e variando de acordo. Os pais dão a vida aos filhos e, variando de acordo com as diversas situações, dão também moradia, alimentação, educação, assistência medica, lazer, etc.
Entretanto, acredito, poucos são os pais que dão tudo isso sem nada esperar receber em troca. A divida pode permear toda uma relação entre pais e filhos, vindo explosivamente à tona no momento em que sua tensão implícita se rompe; quando, por exemplo, o filho não segue os planos que lhe foram traçados pelo pai, ou a filha se desliga dos valores transmitidos pela mãe.
“Ingratos”,é a acusação que ressoa. Mas só há ingratidão quando a divida; é preciso lembrar que esta divida tem a característica curiosa de não ter sido contrariada voluntariamente pelo suposto endividado. Dar engajando o outro, a quem se dá, em uma divida é falso dar.
Dar somente atinge a plenitude de si quando é absolutamente gratuito: dar deve ser sempre dar condições para que o outro cresça, amadureça, se fortaleça por si mesmo.

Francisco Bosco ( Revista Cult ano 12 nº 136).

Livro Livre e Mente em Movimento.

Os livros livres são aqueles que contribuem para o leitor se invista de força suficiente para adquirir sua própria mobilidade; isto é o que se pode chamar verdadeiramente de auto-ajuda , ao passo que o gênero conhecido como auto ajuda é antes o contrario, isto é, uma exoajuda, uma ajuda que, por vir exclusivamente de fora, sem requerer um transformação subjetiva profunda, dificilmente pode ajudar em alguma coisa. E os leitores livres são aqueles que contribuem para restituir a um pensamento sua grande mobilidade, mobilidade que não cessa nunca, enquanto houver leitores livres para, com sua força, pôr pensamentos em movimento.

Francisco Bosco ( Revista Cult ano 12 nº 136).

O Papa e suas escolhas morais

O homem que hoje é o Papa, precisou escolher, 60 anos atrás, entre se aliar à juventude hitlerista ou sofrer algumas conseqüências que lhe pareciam in certas. Ele optou por se juntar a Hitler. Cinco anos arás, ele precisou decidir se abençoava ou não os túmulos dos agentes da SS na França, alguns deles identificados como assassinos de comunidades inteiras. Ele os abençoou. O legado nazista abre um vácuo moral que até mesmo um homem de Deus deve improvisar. As leis não foram gravadas em pedra. E a fé aqui é totalmente confusa.

Norman Lebrecht ( Revista Cult ano 12 nº 136).

Childhood

“ Childhood is measured out by sounds and smells and sights, before the dark hour of reason grows”.

“A infância é medida pelos sons, aromas e cenas, antes de surgir a hora sombria da razão.”



John Betjeman.

Diferent

“Muitas vezes se vive sozinho, quando você é diferente dos outros, é isso que acontece”

Ernest Hemingway – O curioso caso de Benjamin Button.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Aqueles dois

Caio Fernando Abreu


Para Rofran Fernandes:
"I announce adhesiveness,
I say it shall be limitless,
unloosen il.
I say you shall yet find the
friend youwere looking for."
(Walt Whitman: So Long!)


A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.

Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.

Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.

Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.

II

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.

Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

III

Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.

Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.

Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.

IV

Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.

Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.

V

Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.

No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.

Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.

Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.

O conto acima foi publicado no livro "Morangos Mofados", Editora Brasiliense - São Paulo, 1982. Incluído entre "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 439, de onde foi extraído.

Aqueles dois

Caio Fernando Abreu


Para Rofran Fernandes:
"I announce adhesiveness,
I say it shall be limitless,
unloosen il.
I say you shall yet find the
friend youwere looking for."
(Walt Whitman: So Long!)


A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.

Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.

Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.

Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.

II

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.

Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

III

Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.

Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.

Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.

IV

Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.

Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.

V

Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.

No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.

Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.

Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.

O conto acima foi publicado no livro "Morangos Mofados", Editora Brasiliense - São Paulo, 1982. Incluído entre "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 439, de onde foi extraído.

domingo, 31 de maio de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

100 livros essenciais da literatura brasileira

http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/leitura/100-livros-essenciais-398904.shtml

Quais são os 100 livros fundamentais, essenciais, imperdíveis da literatura brasileira? Que romance, poesia, crônica ou conto você não pode deixar de ler na vida? Dom Casmurro, Brás Cubas, Macunaíma, Sargento de Milícias, Grande Sertão Veredas e outras grandes obras do Brasil. A revista Bravo selecionou os 100 melhores livros dos melhores autores do país. Aqueles clássicos que caem no vestibular com 100% de certeza. Um ranking dos livros mais importantes do Brasil. Veja a lista no final do texto.

Escritores costumam ser, até por ofício, bons frasistas. É com essa habilidade em manejar palavras, afinal, que constroem suas obras, e é em parte por causa dela que caem no esquecimento ou passam para a história. Uma dessas frases, famosa, é de um dos autores que figuram nesta edição, Monteiro Lobato: "Um país se faz com homens e livros". Quase um século depois, a sentença é incômoda: o que fazer para fazer deste um Brasil melhor? No que lhe cabe, a literatura ainda não deu totalmente as suas respostas.

Outro grande criador de frases, mais cínico na sua genialidade, é o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, outro autor representado nesta edição. Dizer que "toda unanimidade é burra" é muito mais que um dito espirituoso: significa mesmo uma postura em relação às coisas do mundo e do homem tão crucial quanto aquela do criador do Sítio do Picapau Amarelo.

É evidente que o ranking das 100 obras obrigatórias da literatura brasileira feito nesta edição não encontrará unanimidade entre os leitores. Alguns discordarão da ordem, outros eliminariam títulos ou acrescentariam outros. E é bom que seja assim, é bom que haja o dissenso: ficamos longe da burrice dos cânones dos velhos compêndios e da tradição mumificada.

Embora tenha sua inevitável dose de subjetividade, a seleção feita nesta edição, contudo, está longe de ser arbitrária. Os livros que, em seus gêneros (romance, poesia, crônica, dramaturgia) ajudaram a construir a identidade da literatura nacional não foram desprezados (na relação geral e na ordem). Nem foram deixados de lado aqueles destacados pelas várias correntes da crítica, muito menos os que a própria revista BRAVO!, na sua missão de divulgar o que de melhor tem sido produzido na cultura brasileira, julgou merecer.

O resultado é um guia amplo, ao mesmo tempo informativo e útil. Para o leitor dos livros de ontem e hoje, do consagrado e do que pode apontar para o inovador. Não só para a literatura, mas também, como queria Lobato, para os homens e para o país que ainda temos de construir. A seguir, os 100 livros essenciais da literatura brasileira, listados em ordem alfabética de autor. Leia e divirta-se!



Adélia Prado: Bagagem

Aluísio Azevedo: O Cortiço

Álvares de Azevedo: Lira dos Vinte Anos
Noite na Taverna

Antonio Callado: Quarup

Antônio de Alcântara Machado: Brás, Bexiga e Barra Funda

Ariano Suassuna: Romance d'A Pedra do Reino

Augusto de Campos: Viva Vaia

Augusto dos Anjos: Eu

Autran Dourado: Ópera dos Mortos

Basílio da Gama: O Uruguai

Bernando Élis: O Tronco

Bernando Guimarães: A Escrava Isaura

Caio Fernando Abreu: Morangos Mofados

Carlos Drummond de Andrade: A Rosa do Povo
Claro Enigma

Castro Alves: Os Escravos
Espumas Flutuantes

Cecília Meireles: Romanceiro da Inconfidência
Mar Absoluto

Clarice Lispector: A Paixão Segundo G.H.
Laços de Família

Cruz e Souza: Broquéis

Dalton Trevisan: O Vampiro de Curitiba

Dias Gomes: O Pagador de Promessas

Dyonélio Machado: Os Ratos

Erico Verissimo: O Tempo e o Vento

Euclides da Cunha: Os Sertões

Fernando Gabeira: O que é Isso, Companheiro?

Fernando Sabino: O Encontro Marcado

Ferreira Gullar: Poema Sujo

Gonçalves Dias: I-Juca Pirama

Graça Aranha: Canaã

Graciliano Ramos: Vidas Secas
São Bernardo

Gregório de Matos: Obra Poética

Guimarães Rosa: O Grande Sertão: Veredas
Sagarana

Haroldo de Campos: Galáxias

Hilda Hilst: A Obscena Senhora D

Ignágio de Loyola Brandão: Zero

João Antônio: Malagueta, Perus e Bacanaço

João Cabral de Melo Neto: Morte e Vida Severina

João do Rio:A Alma Encantadora das Ruas

João Gilberto Noll: Harmada

João Simões Lopes Neto: Contos Gauchescos

João Ubaldo Ribeiro: Viva o Povo Brasileiro

Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha

Jorge Amado: Gabriela, Cravo e Canela
Terras do Sem Fim

Jorge de Lima: Invenção de Orfeu

José Cândido de Carvalho: O Coronel e o Lobisomen

José de Alencar: O Guarani
Lucíola

José J. Veiga: Os Cavalinhos de Platiplanto

José Lins do Rego: Fogo Morto

Lima Barreto: Triste Fim de Policarpo Quaresma

Lúcio Cardoso: Crônica da Casa Assassinada

Luis Fernando Verissimo: O Analista de Bagé

Luiz Vilela: Tremor de Terra

Lygia Fagundes Telles: As Meninas
Seminário dos Ratos

Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Dom Casmurro

Manuel Antônio de Almeida: Memórias de um Sargento de Milícias

Manuel Bandeira: Libertinagem
Estrela da Manhã

Márcio Souza: Galvez, Imperador do Acre

Mário de Andrade: Macunaíma;
Paulicéia Desvairada

Mário Faustino: o Homem e Sua Hora

Mário Quintana: Nova Antologia Poética

Marques Rebelo: A Estrela Sobe

Menotti Del Picchia: Juca Mulato

Monteiro Lobato: O Sítio do Pica-pau Amarelo

Murilo Mendes: As Metamorfoses

Murilo Rubião: O Ex-Mágico

Nelson Rodrigues: Vestido de Noiva
A Vida Como Ela É

Olavo Bilac: Poesias

Osman Lins: Avalovara

Oswald de Andrade: Serafim Ponte Grande
Memórias Sentimentais de João Miramar

Otto Lara Resende: O Braço Direito

Padre Antônio Vieira: Sermões

Paulo Leminski: Catatau

Pedro Nava: Baú de Ossos

Plínio Marcos: Navalha de Carne

Rachel de Queiroz: O Quinze

Raduan Nassar: Lavoura Arcaica
Um Copo de Cólera

Raul Pompéia: O Ateneu

Rubem Braga: 200 Crônicas Escolhidas

Rubem Fonseca: A Coleira do Cão

Sérgio Sant'Anna: A Senhorita Simpson

Stanislaw Ponte Preta: Febeapá

Tomás Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu
Cartas Chilenas

Vinícius de Moraes: Nova Antologia Poética

Visconde de Taunay: Inocência