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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Luis Vaz de Camões

Biografia


Luís Vaz de Camões

Não é mais um texto ou dois que fará do grande poeta, Luís Vaz de Camões, melhor ou pior, maior ou menor, mas, como há tempos não se lê nada em jornais do fabuloso português, arrisco-me em passar para algumas linhas algo sobre dele. Quem nunca, na escola, ou por influência de um ou outro, leu ou simplesmente passou os olhos por cima de uma poesia de Camões? É referência em literatura e obrigação de todos estudantes conhecerem a obra deste gênio.

O poeta nasceu por 1524 ou 25, supostamente em Lisboa. Seus pais eram Simão Vaz de Camões e Ana de Sá.
Tudo parece indicar, embora a questão se mantenha controversa, que Camões pertencia à pequena nobreza. Um dos documentos oficiais, a carta de perdão datada de 1553, dá-o como ‘cavaleiro fidalgo’ da Casa Real. A situação de nobre não constituía qualquer garantia econômica. O fidalgo pobre é, aliás, bem comum na literatura da época. São especialmente baseadas num estudo bem fundamentado, as palavras de Jorge de Sena, segundo as quais Camões seria e se sentia ‘nobre’ ‘mas perdido numa massa enorme de aristocratas socialmente sem estado, e para sustentar os quais não havia Índias que chegassem, nem comendas, tenças, capitanias...’.

É difícil explicar a vastíssima e profunda cultura do poeta sem partir do princípio de que freqüentou estudos de nível superior. O fato de se referir, na lírica, a ‘longo tempo’ passado nas margens do Mondego, ligado à circunstância de , pela época que seria a dos estudos, um parente de Camões, D. Bento, ter ocupado os cargos de prior do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, levou à construção da hipótese de ter Camões estudado em Coimbra, freqüentando o mosteiro de Santa Cruz.
Mas nenhum documento atesta a veracidade desta hipótese; e é fora de dúvida que não passou pela Universidade.

Antes de 1550 estava vivendo em Lisboa, onde permaneceu até 1553. Essa estadia foi interrompida por uma expedição a Ceuta onde foi ferido e perdeu um dos olhos.

Em Lisboa, participou com diversas poesias nos divertimentos poéticos a que se entregavam os cortesãos; relacionou-se através desta atividade literária com damas de elevada situação social, entre as quais D. Francisca de Aragão (a quem dedica um poema antecedido de uma carta requintada e subtil galanteria); e com fidalgos de alta nobreza, com alguns dos quais manteve relações de amizade.

Através do calão conceituoso, retorcido e sarcástico, descobre-se um homem que escreve ao sabor de uma irônica despreocupação, vivendo ao deus-dará, boêmio e desregrado.

Na seqüência de uma desordem ocorrida no Rossio, em dia do Corpo de Deus, na qual feriu um tal Gonçalvo Borges, foi preso por largos meses na cadeia do Tronco e só saiu - apesar de perdoado pelo ofendido - com a promessa de embarcar para a Índia. Além de provável condição de libertação, é bem possível que Camões tenha visto nesta aventura - a mais comum entre os portugueses de então - uma forma de ganhar a vida ou mesmo de enriquecer.

Camões também foi soldado durante três anos e participou em expedições militares que ficaram recordadas na elegia O poeta Simónides, falando (expedição ao Malabar, em Novembro de 1553, para auxiliar os reis de Porcá) e na canção Junto de um seco, fero, estéril monte (expedição ao estreito de Meca, em 1555).

Esteve também em Macau, ou noutros pontos dos confins do Império. Sabe-se que a embarcação em que regressava naufragou e o poeta perdeu o que tinha amealhado, salvando a nado Os Lusíadas na foz do rio Mecon, episódio a que alude na estância 128 do Canto X.
Para cúmulo da desgraça foi preso à chegada a Goa pelo governador Francisco Barreto.

Vem até Moçambique a expensas do capitão Pero Barreto Rolim, mas em breve entra em conflito com ele e fica preso por dívidas. Diogo do Couto relata mais este lamentável episódio, contando que foram ainda os amigos que vinham da Índia que - ao encontrá-lo na miséria - se cotizaram para o desempenharem e lhe pagarem o regresso a Lisboa. Diz-nos ainda que, nessa altura, além dos últimos retoques n’Os Lusíadas, trabalhava numa obra lírica, o Parnaso, que lhe roubaram - o que, em parte, explica que não tenha publicado a lírica em vida.

Chega a Lisboa em 1569 e publica Os Lusíadas em 1572, conseguindo uma censura excepcionalmente benévola.
Apesar do enorme êxito do poema e de lhe ter sido atribuída uma fatia anual de 15000 réis, parece ter continuado a viver pobre, talvez pela razão apontada por Pedro Mariz: ‘como era grande gastador, muito liberal e magnífico, não lhe duravam os bens temporais mais que enquanto ele não via ocasião de os despender a seu bel-prazer.’ Verídica ou legendária, esta é a nota marcante dos últimos anos (e aliás o signo sob o qual Mariz escreve toda a biografia).

Morreu em 10 de Junho de 1580. Algum tempo mais tarde, D. Gonçalo Coutinho mandou gravar uma lápide para a sua campa com os dizeres: ‘Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas de seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assim morreu.’

As incertezas e lacunas desta biografia, ligadas ao caráter dramático de alguns episódios famosos (reais ou fictícios): amores impossíveis, amadas ilustres, desterros, a miséria; e a outros acontecimentos cheios de valor simbólico: Os Lusíadas salvos a nado, no naufrágio; a morte em 1580 - tudo isto proporcionou a criação de um ambiente lendário à roda de Camões que se torna bandeira de um país humilhado.

Mais tarde, o Romantismo divulgou uma imagem que salienta em Camões o poeta-maldito, perseguido pelo infortúnio e incompreendido pelos contemporâneos, desterrado e errante por ditame de um fado inexorável, chorando os desgostos amorosos e morrendo na pátria abandonado e reduzido à miséria.

A imagem final que nos fica de Camões é feita de fragmentos paradoxais: o cortesão galante; o boêmio arruaceiro; o ressentido; o homem que se entrega a um erotismo pagão; o cristão da mais ascética severidade. Fragmentos que se refletem e refratam na obra, que por sua vez revela e oculta um conteúdo autobiográfico ambíguo, deliberadamente enigmático.
Camões publicou em vida apenas uma parte dos seus poemas, o que deu origem a grandes problemas sobre a fixação do conjunto da obra.


*extraido do site http://www.socultura.com/socultura-poesia3.htm

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