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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Eu cantarei de amor tão docemente,
por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que na sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
temerosa ousadia e pena ausente.

Também, senhora, do despejo honesto
De vossa vista Branda e rigorosa,
Contentar-me-eidizendo a menor parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luis Vaz de Camões.




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